Conheça o homem que manobra navios na Lagoa dos Patos

Poucos conhecem as hidrovias que chegam e partem de Porto Alegre tão bem quanto Amaro Vasconcellos de Paiva. As quase cinco décadas de navegação pelos 10 mil quilômetros quadrados de superfície lhe conferiram a precisão de uma carta náutica. Bancos de areia, meandros, profundidades, perigos e riquezas. Nenhum detalhe lhe escapa. Nestas águas, ele é Seu Paiva. Aos 78 anos, o decano da praticagem na Lagoa dos Patos.

Sua função é controlar os rumos de embarcações que se aventuram pela laguna. Como os comandantes de navios estrangeiros que ali chegam nada conhecem da geografia local, é Paiva — e os outros sete práticos da Associação de Praticagem da Lagoa dos Patos, fundada em 1º de maio de 1935 — quem aconselha a autoridade máxima da embarcação e dá as coordenadas ao timoneiro.

— O prático precisa ser “safa-onça”, saber os caminhos, conhecer os canais. O comandante estrangeiro não conhece as hidrovias da região. A função do prático, então, é guiá-lo por águas desconhecidas — explica o navegador.

O velho marinheiro hoje é ele. Parrucho, como se define (uma mistura entre sua origem paraense com gaúcho), iniciou a vida de navegador na Escola Mercante do Estado do Pará. Após três anos de aulas, embarcou por quase uma década como membro da Frota Nacional dos Petroleiros. Percorreu a costa brasileira, o Mar do Caribe e parou no Rio Grande do Sul “a mando do destino”. Amparado pelas memórias, tem a convicção de que ainda não é hora de parar:

— Não pretendo parar tão cedo. Vou ficar fazendo o quê? Ficar jogado no sofá? Estou enxergando bem e até faço ginástica.

Se filho de prático, prático fosse, os três filhos de Paiva teriam de ter nível superior em qualquer área, habilitação de mestre-amador, conhecimentos de inglês e, a partir do processo seletivo da Marinha do Brasil, conquistar uma vaga no curso de “praticante de prático”. Com certificado em mãos, então práticos, trabalhariam como profissionais liberais e ganhariam algo em torno de R$ 20 mil mensais, caso atuassem na Lagos dos Patos (em alguns locais do país, como no Maranhão, o valor pode passar dos R$ 100 mil por mês, mas a média no Brasil é de R$ 30 mil).

O trio não quis seguir os caminhos do pai, mas tampouco o privou de orgulho. A filha, Iara (senhora das águas, em tupi), formou-se em Direito e, no trabalho de conclusão, analisou o direito marítimo, a praticagem e a proteção ambiental.

Fonte: Jornal Zero Hora

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